sexta-feira, 10 de agosto de 2007

CRIANÇAS

A Izolda

Não me diga,
Nem me faça.
No beco da noite escura,
Não se deixe.
Contemple,
Seu rosto não pinte.
As armas do crime,
Não entregue.
Cante nos dentes
Canções,
Sossegos de ontem,
E adormeça.
A morte penteia as vísceras
Na noite escura.
Um beco é a chave
De uma outra chave.
Caminhe por ele e tome
Pra si
O vento frio,
Tão seu no calor íntimo
De seus bolsos vazios.
A voz cala a pesar.
Não entregue,
Nem distribua nada.
O que nada tem.
Procure a morte naquilo
Ali que nada em suas mãos quentes.
Sua vida, encontrá-la. Está também ali.
Nós somos assim:
Deuses,
Águas dos rodos
Empurrados pelas
Crianças.
Elas grafitam o mundo
E dispensam passado
Num futuro há muito esquecido.
Deuses morrem
Num sempre e vão começo,
Uma calçada molhada pelo tempo.

Agosto 2007
A. R. Falcão
Maré Minguante

A busca por um
Verbo que eu, puxando,
Me leve a águas
Menos rasas, no escuro
Mais profundo do
Desamparo humano;
E da solitude mais vadia
E mais inútil em que nos
Atiramos por inteiro e rasgados,
Nos interstícios mais vastos
Dos céus e mares que
Mutuamente se espelham,
Na inveja da incompletude,
Do amor que não se quer fazer
- Lua vazante -
E em vão se procura;
E que, antes de minguar, jaz aqui.

antônio rebouças falcão
abril 2005
Crônica da palavra assassinada

Um problema que vem, há muitos anos, preocupando escritores, filósofos e estudiosos é o empobrecimento da linguagem nas sociedades de massa, chamada também de cultura da nova oralidade. O que tem assustado tanto? O crescente analfabetismo funcional e o abandono da civilização da escrita, base de todo o conhecimento desenvolvido pelo Ocidente.
Como se verifica isso? Na pauperização da fala de todos, entendida como redução de repertório vocabular, incapacidade de compreensão de um texto elementar, desarticulação sintática, escravidão a frases feitas, jargões, slogans; aumento crescente do consumo da baixa literatura, queda mundial da venda de jornais e baixa qualidade da educação. Apenas um exemplo eloqüente: lingüistas, num exame da língua inglesa moderna, perceberam que o número de palavras no uso cotidiano da maioria da população poderia já estar reduzido a trinta e quatro. A maioria do atos de comunicação corrente se serve dessa miséria verbal alarmante.
No Brasil, é muito fácil notar o mesmo fenômeno na fala dos jovens: um número desmesurado de palavrões e muletas verbais como “mano”, “bagulho”, “tipo de”, “saca”, “meu truta” etc. Entre adultos (escolarizados, é bom que se diga), pragas intoleráveis como “a nível de”, “resgatar” (onde foi o seqüestro?), “como um todo”, “auto-estima” (por que não o nosso velho e bom amor-próprio?), “stressar” (por que não o nosso velho e bom estafar?) etc. Nesta mesma faixa etária, jargões profissionais obscuros que ocultam mediocridade monumental, teses acadêmicas inúteis e ilegíveis.
Numa escola em que trabalhei por quatro anos, fiz um levantamento sistemático entre os professores: ninguém assinava um jornal ou revista, liam apenas auto-ajuda e bobagens esotéricas. O que pode resultar disso?
As pessoas (as que ainda falam sem grunhir) não perceberam que tragédias como o nazismo e o stalinismo começaram seus crimes inomináveis perseguindo, prendendo e matando escritores; mas antes fizeram um competente trabalho empobrecendo a grande língua alemã, destruindo a literatura russa. No Brasil, o mesmo trabalho já começou.
Sejamos responsáveis, começando por desligar a televisão; depois, parar de tagarelar inutilidades em todos os lugares e aparelhos; mais tarde, fazer silêncio. Por fim, redescobrir as palavras em toda sua delicadeza e força criativa. Quem sabe voltemos a pensar, falar e dialogar de novo!

Antônio Rebouças Falcão
UM AMOR

Estive olhando as pessoas:
Pareciam-me tristes como
Gatos que andam pra trás.
O sol era azul e os pássaros dormiam
De olhos vermelhos.
Como carambolas claras
Lavando pirulitos na pia.

Ando triste, vendo pessoas mais tristes ainda.

E ainda ontem sabia:
Os ventos que formigavam a areia
Eram a rapariga.
Uma daquelas.
Esta que é quê.
E aquela que é nada.

Por ter tanto
Olhado as pessoas,
Pensando tê-las
Em vê-las,
Sei: não sei.

antônio rebouças falcão
julho de 2002
O dia foi acontecendo

Más baratas com as últimas migalhas;
Formiguinhas aflitas na fila;
Fio de brisa na sala de visita;
Motor bronco na branca geladeira.

Calça, camisa e cueca.
Meias, cinto, cueca e sapatos.
Boca de séculos. Gravata de casamentos.
A alma, a folha seca. Outono. Língua de verão.

Seio na dobra generosa do lençol,
No amor de ontem,
No impossível da perna,
No silêncio dos pés.

Na dor mesma de sair, de fechar a porta.
A porta desmanchando-se na areia da luz
A luz estúpida que me cospe o dia.

Maio de 2005 antônio rebouças falcão

quinta-feira, 9 de agosto de 2007



Memória escolar

Minhas primeiras duas lembranças: a inicial, na fase que corresponde ao que se chama hoje de pré-escola, um sentimento de repulsa à ordem, para mim nova, estranha e muito desconfortável, necessária à organização de um grupo de crianças – estas eu conhecia de outras situações, porque pertenciam ao meu grupo de convivência social; falar em classe, como pensei em fazê-lo, não cabe aqui nem ali. Estávamos em meados dos anos 50.

Eram meus amigos de brincadeiras, festas, visitas familiares e de convívio franco em outros lugares, como as ruas da infância interiorana. O mais surpreendente para mim foi estarmos juntos numa situação diferente em que um adulto nos dirigia em tudo.

Um dado muito peculiar: o adulto era minha própria mãe; o que, é evidente, provocava mais outro e indigesto estranhamento. Na escola, minha mãe não era minha mãe. Era, então, muito esquisito. Suponho que esta experiência tenha fundado em mim uma consciência extremamente forte – degenerada em angústia - sobre a ambigüidade de qualquer autoridade instituída, e da ambigüidade especular em que eu precisava nadar para ser filho da professora (daquela autoridade), não sendo. Diante de meus amigos (agora colegas) o que (quem não cabe) eu era? E eles, ali, o que eram?

Ficou, nessa primeira fase, o seguinte: eu não podia falhar, por duplo ( ou qualquer outro múltiplo de maior valor) motivo. Na pré-escola (pré-primário) por exemplo, eu odiava atividades com tecelagem em papel, tinha um colega japonês (o nome dele era Nelsinho – não esqueço) que as realizava com paciência e perfeição, enquanto eu as rasgava em fúria e sentimento de fracasso.

A segunda lembrança: no primeiro dia de aula, no primeiro ano primário, antes que a aula começasse, estávamos todas as crianças no pátio, que era mais um quintal da escola – o chão era de terra batida e mal forrado de capim de burro, uma graminha fina, rala e vagabunda que nascia como o sol - (espaço muito conhecido para mim, porque era onde meu pai freqüentava a Loja Maçônica; onde, diziam todas as crianças, era venerado um bode preto – meu pai fazendo isso?).

Ali e naqueles momentos, em que me senti pela primeira vez só, eu e as pessoas da cidade que era o meu mundo; eu frente (ou contra?) o mundo que era minha cidade, sem minha família presente, embora minha irmã também estivesse ali numa série seqüente, naquele pátio. Curiosa lembrança: parece, hoje, que minha irmã nunca estudou na mesma escola.

Ali eu paguei um preço diferente por ser filho de quem eu era: tive que travar minha primeira briga pública, violenta e com platéia, para provar que sendo filho de quem eu era, não poderia ser fraco. Foi contra um menino de quem, hoje, não me lembro, mas, então, o conhecia de nome e fama. Eu precisava bater. E bati com fúria guardada.

Na primeira aula, em escola pública, eu entrei chorando, emocionalmente abalado. Acho que a escola não tem nada a ver com isso. Uma mistura de orgulho pela vitória na briga que todos viram com uma culpa pela humilhação do adversário me fizeram não prestar atenção ao que a professora (Dona Soledade) dizia.

Aprendi, de cara, que a escola padece de esquizofrenia: é um lugar e um tempo fora de lugar e do tempo, como estando entre parênteses na vida. A gente deseja o recreio ou o último sinal para voltar à vida. As instituições nos fazem isso: o desejo permanente de estar fora delas. Para mim, tem sido assim.
Joaquim

Um desatino, um gato.
Sobre todos os corpos,
Os nossos,
Ele fez, por uso,
Um piso.
As noites,
De si,
Fizeram-se, dos bichos,
Dos silêncios e do inesperado,
Dele.
Anda por aí,
Mas não mais aqui.
Era assim o Kim. O Joaquim.
É um fundo para todas as estrelas.
Ainda será.
Em dúvida, confira:
A grande noite que o acolheu,
Generosa,
O distribuiu aí, assim.

Falcão sobre a morte de Kim (o gato de Pedro), abril de 2002
E a Sala de Aula, Cara Pálida?!

Muito se tem escrito sobre a percepção do tempo no homem ocidental contemporâneo depois que a televisão incorporou-se a seus hábitos de vida, desde a infância. Se vem sendo “prisioneiro” de uma cultura – a judaico-cristã - em que o tempo é percebido de forma linear – o passado que se desdobra em direção ao futuro; se a sociedade de consumo o amarra à lógica da acumulação, a exposição constante ao fluir das imagens em vídeo, que o leva de volta a uma espécie de nova oralidade – uma imagem substituindo, em fluxo, outra que não mais existe após sua emissão, à maneira da palavra na comunicação oral, esta exposição produz, nele, a perda daquela memória que nos fazia permanecer em retorno recorrente para definir o caminho dos passos seguintes. O homem fica compactado num tempo que é unicamente presente. Como as imagens, tudo, inclusive ele próprio, se substitui, porque tudo se equivale. O edifício do mundo representado se des-hierarquiza e ele cai, então, num vazio de sentido constitutivo, sua identidade é pulverizada. Agora em vez de sempre, esfaimar-se em vez de ser, a vida reduzida a perda e ganho.

Laymert Garcia dos Santos apresenta nesses termos: “Socialmente, portanto, o direito de existir passa a coincidir com o direito de consumir. Consumir não mais por necessidade, mas por ansiedade. Com efeito, se a identidade social de cada um se afirma na esfera do consumo e se paira no ar a incerteza quanto ao futuro e a ameaça da exclusão, como não vincular a estratégia do consumo à estratégia da sobrevivência? Consumir e sobreviver reforçam-se mutuamente. Pois tanto o consumo quanto a sobrevivência dependem do grau de inserção do sujeito na dinâmica acelerada imposta pela união da tecnociência e do capital global. Para sobreviver, bem como para consumir, é preciso correr contra a crescente obsolescência programada que as ondas tecnológicas e a altíssima rotatividade do capital reservam para pessoas, processos e produtos. Para sobreviver, bem como para consumir, é preciso se antecipar. (...) Trata-se de privilegiar o virtual, de fazer o futuro chegar em condições que permitam a sua apropriação, trata-se de um saque no futuro e do futuro ...”

Milton José de Almeida faz assim: “A sociedade moderna, apesar de muitas vezes parecer o contrário, é uma sociedade oral. A leitura e a escrita nesse tipo de sociedade são, como tendência, mais operativas e funcionais, não têm como objetivos a reflexão e a criação, mas a instrução e o cumprimento de diretrizes. Uma sociedade oral é estranha à literatura e à poesia escritas, às histórias escritas, mas não a histórias e mitos. As histórias-em-imagens filmadas são um prolongamento e um acréscimo visual das histórias faladas. Uma sociedade oral tem no ouvir incessante e no olhar exterior a fonte única de informações, valores, conhecimentos, comportamentos a serem imitados. Sons da fala ou do mundo e imagens fundem-se na construção mimética da subjetividade do homem urbano, cuja maioria lê pouco, ouve, vê e fala muito, imerso numa eterna infância da cultura.”

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Este

A gente falava de pensamentos
Nas estrelas do céu,
Nas ramagens miúdas,
Nas alturas
Para onde nossas pedras
Iam frágeis.

O mar me veio em graça.

Quando nos víamos,
E silenciávamos,
Seus olhos como os meus
Comiam as palavras
Que não precisaríamos
Mais nunca dizer.
MAR DE DOMINGOS


Uma fruta cozida lambe a toalha,
Formiguinhas de açúcar costuram
A cozinha.
Uma torneira vigia copos vazios,
Talheres parlamentam sobras e colas.
É quase manhã. O que há de ser?
É quase manhã. Será um domingo.
No verão, respiram um sono de cera.
O escuro dos quartos enxuga
Os vãos de suspiros.
A família dorme mal seus miúdos.
E dezembro, assim manso,
Faz grande a barriga. Como grande e bruta
A alegria;
Sonoro, o gargalhar;
Pesada a noite e o pão de Jó.

dezembro de 1995

A. R Falcão
O meu sagrado Jequiriçá

Se você chega à beira do rio,
Está plantado na terra. Um fruto do chão.
Os pássaros estão esparramados no céu da noite desluarada.
Despassarados. Grampos de galhos. Árvores. Mas,
Sabiás são desesperados.

O banho de rio
Começa um frio
Na distração de um grilo,
Que avisa a pedra
Que avisa a água,
Que acorda o limo,
O bem-te-vi,
Uma ponte,
Um pingo de fruta.

Um ventre de segredos.
Um silêncio da luz.

A água do céu então avesso
Desacorda luas e faz despenteada
Uma noite nos nossos braços e mãos.
Avança um peito sobre o liso frio da vida líqüida,
As pernas são remexidas e se abrem sob o desescuro
Vago da brisa sempre antiga.

Uma jibóia de silêncio e ventre
Descobre nosso corpo frágil.
Inunda para sempre
Um mole do entretudo.

A morte é então real.
A vida se deslumbra no pequeno dela.
Ou no grande de um lago reprimido.

No nada nadamos. Já enormes.
Eis então o rio sob nossos olhos.
E por tão pequenos
Que somos nós,
Disformes,
A manhã nos abraça em luz.

Enfim sinistros,
Desnudamos o corpo das águas
Que chuviscam pra dentro,
Que se despedem de
Uma vã sobrevivência.
Uma boca aberta de mágoa
E plena de alma. Alva.

Maldito sabiá. A graça do sabiá.


antonio rebouças falcão
GLOSA

Numa palavra:
Sem que solicitem,
Oferecer, do corpo, um traje,
Que os vista ;
Despir-se e ver
Um corpo outro ;
Servir-se do pano
Que, nos olhos,
Duplica-se em nudez
Dos revestidos, do despido,
Num silêncio, um alfabeto gago
Alvoroço
De vozes consentidas.
julho de 1996
HOJE É DIA

O dia é hoje:
Tornaram-me um pai
Desses e daqueles.
Uma sombra desarvorada
Pássaro infirme.

Ando assim, aí.
Meus passos mergulham
Na água despovoada.
E gosto da noite das grutas.

O amor passa a minha volta.
Abrem e fecham portas.
E a volúpia das sete chaves
Fica em outro bairro.

Gosto das casas sem muros
E dos jardins desorganizados.
O acaso é meu pai.
Acordo num pântano.

Minha insignificância
Agasalha-se
Na vacuidade das distâncias
infinitas.
Eu nasci morto.
Feliz é hoje, o dia. Este imponderável.
antonio rebouças falcão - agosto de 02
BRANCO

Ao bater na porta
Sem o prévio aviso,
O branco do papel passivo
Olhou-me
De seu banal desinteresse.
Minha indiferença em dizer-lhe,
Inscrever-lhe meu prosaico chão da voz,
Meu nada, no vazio daquela presença,
Vazou-lhe o dia.
Examinaram-me momentos,
Seguidos silêncios,
Folhas indolentes de um vago jardim
Que me viam sob o sol ardente
Consumaram um não,
Um ter-me em mãos que
Rasgava-se na luz clara do portão.
O não
Que, no branco, foi-se em si.

Junho de1999

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Dito e Feito

Dito e Feito

Dor a causa
Dos homens e lugares
Sem espaço
Um não-lá da casa.
Homens antes
Aqui e ali.
Falta fazem estes
Pequenos tumores benignos:
A memória dos sem-lugares.
Os mortos não.
Bem estão já desaparecidos.
Guardados no escuro
Dos vivos.

junho de 1998

Deixa

Deixa

A vida é clara.
As sentenças das somas.
É, em confusão
Ou religião.
A vida é clara.
Somos um singular silêncio
Como tempo em panela:
Como tampa,
Somos a palavra.
Dezembro de 1998

DEVAGAR

Devagar

Os cachorros não entram
Na casa que não me quer.
Por mais, os olhares tentam:
A sala espaçosa, ampla
Cozinha e biblioteca generosa.
Os cães me olham sombrios
Durante a noite em que
Meus olhos incham.
Próximos à manhã das iras
Que surgem como vagens verdes
E me atiram à cidade visível.
Durmo cedo. Temo o costurado
Dos vãos que me surgem
No inesperado das noites.

Março de 1994

domingo, 5 de agosto de 2007

Bomba

A SUA BOMBA

As ruas do Brasil estão aí. Em São Paulo, a capital, mais que em outro qualquer lugar, são sensíveis os efeitos deletérios da administração macro-econômica adotada. A miséria é enorme. Homens (pais), mulheres (mães) andam no centro em busca de qualquer coisa que lhes dê algo para ... É possível perceber o nervosismo no ruído da cidade. Todos estão nervosos. Algo vai acontecer. Isso não pode continuar.

Em Lucélia, coisas assim não são tão visíveis, a menos que você saia num domingo, à tarde, pela avenida. O ruído da juventude, seu tédio, sua futilidade, seu consumismo atroz amedrontam.
Em todas as salas de aulas, os professores, os alunos se amesquinham. Forma-se mal uma geração. Nós, os que já envelhecem, dormem mal. Quando conseguimos.

Usar seu próprio automóvel é um risco. Então, táxi (os motoristas lhe agradecem) ou ônibus. O motorista é invisível: não pode, não deve, não quer diálogo. Uma estafa em corpo físico. Às seis horas da manhã,
os semblantes visíveis lhe parecem cenas do século XIX, na primeira (ou qualquer outra) revolução industrial. Por que o Brasil tornou-se, outra vez, cruel? Não nos esqueçamos nunca da escravidão.

Um senhor, agora na China (talvez não mais), chamado ora bêbado, nos prometeu mudanças para não cumpri-las. Não merecemos isso. É tudo uma esculhambação.

Há duas imagens eloqüentes - na verdade símiles - sobre nossa infeliz condição (apesar do Honda na garagem): somos um índio doente, chorando sobre ouro; somos um negro triste na frente do palácio. Acrescentaria uma terceira: o caixa eletrônico não reconhece a senha. Somos os bestões de classe média. O que FHC já havia começado a destruir. Náufragos é o que somos.

Um pobre autêntico, louco, fora de seu juízo, faria assim: "Deite aí, mãos pra ver, palhaço, não se mexe, ou você morre num brinquedo; este aqui, pretinho e cheio de chumbo!"

Antônio Rebouças Falcão