quarta-feira, 10 de julho de 2013


POLÍTICA

 

Enquanto, sob a proteção e sabedoria do suíno mestre, a rubra leitoa está a assar em fogo brando, a estrela furta-cor a tudo observa – sem nada entender - com as mãos nos bolsos. Os nossos bolsos.

 Sobre isso, nunca houve dúvida: nosso risonho futuro continua pleno de promessas, porque, afinal, demora a chegar. É futuro, estúpido!

 Avante, manada! “Vai pra Caixa você também!” As lojas não esperam, cobram. Em 2014, acreditem, haverá carvão para todos.

AMENIDADES NA BAHIA

            As primeiras impressões, ao conhecer pessoas, se avizinham daquele pano no varal. Depois de torcido, logo esticado e estendido, deixa, ainda aos olhos, rugas e dobras. À medida que seca, se estira e alisa. As impressões iniciais equivalem aos relevos que se aplainam com o tempo. Incertas em seus preâmbulos, confusas e contraditórias, acabam por repousar em juízos mais ou menos provisórios.

 Passado a ferro quente, é como as sentenças definitivas que frequentam as separações litigiosas. Os impressionados e impressionáveis dançam valsas de enganos e desenganos, até se aquietarem em discórdias e confortos.

 É de bom alvitre acautelar-se e observar com cuidado, sem exagero, para que, pouco a pouco, o molho da simpatia e sedução engrosse e chegue ao ponto excelso. Dizem assim os partidários do bom senso, como também, que ódios e ressentimentos fiquem para depois, com datas incertas. E desapareçam em brevidade como recomendam também os serenos de olhar felino e horizontes insondáveis.

 Mas os descabelados têm sua vez. Para maus entendedores, maus exemplos são eloqüentes:

 No meio da festa familiar, os dois pais, conhecidos amistosos, conversam aos gritos, analisando o cenário feminino, ruidoso e juvenil, ao som da suave percussão que enlouquece os vizinhos, balança os quadros, treme o lustre e ferve os quadris:

 - E aí? O que achou daquela debutante ali?
 - Não gostei. Parece uma puta.
 - Nossa! Por quê?!
 - É o “jeitão” dela.
 - E o que tem ele?
 - Olhe a roupa: salto agulha 17, “shortinho” cavado, colante, vermelho, “top” de tule transparente, tomara-que-caia, não usa sutiã, cabelos azuis de corte moicano, brincos de alta tonelagem, maquiagem carregada, batom encarnado, cigarro com piteira “pinke”, o copo de vodka e aquela bolsinha...
- Ora, Oscar! Quem olha pra você, não vê um cafajeste.
- Como assim? Que tenho eu?
- Estampa de cavalheiro moderninho: mocassim italiano de pelica, calças brancas de cambraia, bata bordada, azul celeste, bem barbeado, unhas e cabelos tratados, rabinho de cavalo, colar da mística indiana, modos suaves, um verdadeiro guru do bem. E aí, escondidinho, um tarado! Pois fique sabendo: aquela debutante ali, a que parece puta, é minha filha, tem apenas quinze aninhos, está só feliz, brincando. Você não tem noção!
- ...! Já se levantando.
É... nada visível, redondo e circular é redondo.

A. R. Falcão – julho de 2013